
Director da mediação científica e da educação, Universcience – Cité des sciences et de l’industrie + Palais de la découverte (Paris, França)
Quando visitamos um centro ou museu de ciência podemos apostar que uma grande parte dos visitantes serão crianças ou jovens em idade escolar. Quanto aos adultos, eles serão muito provavelmente pais, avós, professores. Ou seja, os adultos que visitam esses espaços fazem-no frequentemente enquanto acompanhantes dos mais novos. Isto é uma missão essencial, mas é também um problema ilustrado pelos resultados (ou falta deles) da comunicação e educação científica em relação a problemas ambientais ou de saúde pública.
Uma atitude frequente dos educadores consiste em abordar estes problemas urgentes “adiando-os” para a próxima geração. “Temos de nos concentrar nas crianças”, diz o argumento habitualmente utilizado, “pois se o fizermos, elas tornar-se-ão adultos conscientes e com os conhecimentos necessários para corrigir o que estamos a fazer mal agora”.
Muitos de nós trabalhamos na educação científica há tempo suficiente para vermos os resultados desta estratégia: as crianças dos anos 90 são hoje os adultos que não conseguimos interpelar, são os eleitores que decidem sobre o futuro da sociedade, são os adultos que cresceram quando a comunicação científica já era uma realidade generalizada, quando muitos museus de ciência, juntamente com as escolas, já trabalhavam ativamente na sensibilização ambiental e educação para a saúde. Os adultos do presente são as crianças que educávamos há anos atrás, e a conclusão a tirar é que confiar numa melhoria geracional nestas matérias é uma estratégia ineficaz, demasiado lenta para ser considerada como uma solução séria.
O problema não é a falta de conhecimentos ou de informação – isso poderia ser colmatado com uma ação educativa dirigida aos mais novos. O problema reside na falta de interação entre a ciência e os cidadãos que votam, que escolhem o meio de transporte que usam, que decidem se vacinam ou não os seus filhos. Um adulto que envereda por uma atividade não diretamente ligada à ciência – a maioria – contacta com a ciência de modo essencialmente passivo, enquanto espectador de documentários, leitor de artigos no jornal ou de páginas da internet. Esta falta de interação dinâmica entre ciência e cidadãos não se resolve com educação: é um problema funcional, renovado a cada geração.
É necessário mudar agora a relação que os adultos têm com a ciência, trabalhando com e para os adultos. Os centros e museus de ciência são espaços ideais para essa mudança. Mas parte da solução está também nos cidadãos e no modo como eles entendem os museus e centros de ciência.
Não construímos museus de arte só para cultivar vocações artísticas, ou para inspirar e educar a nossa juventude: esses museus alimentam a noção de que a arte faz parte de quem somos e é um motor de inovação social e criatividade; são uma forma de reconhecer a arte como uma característica que nos define como seres humanos. Do mesmo modo, esforçamo-nos por construir centros e museus de ciência com a mesma relevância cultural, assegurando que a ciência seja entendida como parte de quem somos e, portanto, como fazendo parte integral da nossa cultura e do nosso futuro.
Da próxima vez que tiver uma questão, uma dúvida, uma sugestão, ou curiosidade em relação a algo relacionado com ciência ou tecnologia, com ambiente ou saúde, com exploração espacial ou economia, venha a um museu ou centro de ciência: eles não são só para as crianças e, atrevo-me a dizer, eles não são principalmente para as crianças. São para si.
*Artigo publicado originalmente no jornal Açoriano Oriental no dia 13 de abril de 2022