francisco ferreira
Francisco Ferreira
Professor universitário, Presidente da ZERO

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas criado em 1988 reúne cientistas de todo o mundo que têm construído inúmeros relatórios, principalmente as análises ou avaliações do que nos diz a ciência climática, a identificação dos impactes e as necessidades de adaptação a um clima em mudança e, acima de tudo, o que é preciso mudarmos para impedir consequências de maiores dimensões. Foi o seu primeiro relatório, em 1990, que foi determinante para a aprovação na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como ECO 92 no Rio de Janeiro, da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas.

Todos os seus relatórios foram alertas fundamentais baseados na melhor ciência para que as nações de todo o mundo respondessem com compromissos, mesmo que limitados, de conterem as suas emissões, desde o Protocolo de Quioto em 1997 onde os países desenvolvidos se comprometeram com uma redução de emissões poluentes entre 1990 e 2008-2012 até ao Acordo de Paris, em 2015, onde os objetivos de redução passaram a abranger todos os países.

Olhando para o passado, e apesar das reuniões anuais das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, não deixa de ser com mágoa que vemos que a concentração de gases com efeito de estufa e a tendência de aumento da temperatura têm sido uma constante.

A terceira parte do 6.º relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas relativo à componente de mitigação – redução das emissões de gases com efeito de estufa – foi publicado no início de abril e traz boas e más novidades. Por um lado, afirma que ainda é possível limitarmos o aquecimento global a 1,5 graus Celsius face à era pré-industrial se começarmos a reduzir as emissões até 2025 e traça-nos um caminho onde o investimento em eficiência energética e energia renovável com particular ênfase nas cidades, principalmente no setor dos transportes e edifícios é o mais decisivo. Por outro lado, afirma que sem medidas adicionais, o caminho é de um aumento entre 2,2 e 3,5 graus até 2100, com o valor mais provável de 3,2 graus de aumento. Apesar da tendência de decréscimo das emissões totais nacionais, esse decréscimo precisa de ser mais rápido. Há setores que precisam de uma atenção particular, uma vez que apresentam a tendência oposta, de aumento contínuo de emissões, como é o caso dos transportes, para além de termos de aumentar a eficiência energética e ultrapassar a pobreza energética.

É preciso continuar o esforço para uma total independência de utilização de energia proveniente de combustíveis fósseis. As alterações climáticas deverão ser cada vez mais uma prioridade e urge a adoção imediata de ações de mitigação, que combatam as causas, e de adaptação, que minimizem os impactos, com vista a uma sociedade neutra em carbono e resiliente ao clima.

Todos temos também de dar um contributo, recorrendo menos ao uso do automóvel ou evitando desperdiçar energia em casa. Apostar no bem-estar, na frugalidade, na suficiência, numa mudança onde a felicidade se constrói com menos mas valendo mais, é a solução para uma humanidade que deve comemorar o ambiente através de um novo rumo que tem de ser muito mais sustentável. 

*Artigo publicado originalmente no jornal Açoriano Oriental no dia 27 de abril de 2022