
Presidente do CA da ARDITI – Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação
Como qualquer Região Insular (tropical), a Madeira tem privilegiado o Turismo como motor da sua economia, comprometendo outras áreas estratégicas como o desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e da Inovação. Olhando para as despesas em Investigação, em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB), nas Regiões NUTS-II em 2020 notamos dois níveis de investimento em Portugal: a área Metropolitana de Lisboa, o Norte e o Centro com um investimento acima da média nacional (1.4% PIB), enquanto os Açores, a Madeira e o Algarve investem menos de 0.5% do PIB. Nos últimos 3 anos é na região do Alentejo que denotamos um crescimento mais consistente, prestes a atingir a média nacional.
As metrópoles europeias ambicionam atingir 3% do seu PIB em investimento Ciência e Tecnologia. Torna-se assim importante compreender como investem outras regiões insulares europeias. Na Região da Macaronésia, as Ilhas Canárias desde 2010 têm vindo a descer o investimento em Investigação atingindo em 2019 apenas 0.47% do PIB, enquanto a Madeira investe 0.44 % e os Açores 0.3%. A Madeira é a única que denota um crescimento modesto, mas consistente, pois em 2016 o investimento atingia somente os 0.3% do PIB, tal como nos Açores. Notório é também um ciclo do investimento muito dependente dos quadros de financiamento europeu, sugerindo ainda um fraco compromisso dos orçamentos regionais.
A par do investimento está também o número de Investigadores Profissionais a residir nas ilhas. Em 2010, os Açores e a Madeira detinham um número de investigadores muito semelhante (359-Açores; 382-Madeira), enquanto em 2019 esse número subiu para 365 nos Açores (+0.2%) e para 585 na Madeira (+3.8%). Por outro lado, o desinvestimento em Ciência e Tecnologia nas Canárias resultou numa consequente ‘fuga de cérebros’. Em 2010 viviam 4099 investigadores no Arquipélago, enquanto em 2019 somente 3572 (-1.5%). Em suma, a fixação de Investigadores de carreira exige investimento a longo prazo, independentemente dos ciclos de financiamento europeu.
A Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação Tecnologia e Inovação (ARDITI), da Madeira priorizou o desenvolvimento de grupos de investigação com ligações fortes aos polos de excelência nacionais: LARSYS, MARE e IDL. Desenvolveram-se esforços para divulgação da nossa ciência junto da comunidade escolar e sociedade civil: desenvolvemos semanalmente ações com as escolas; publicamos artigos mensais num matutino local; divulgamos notícias nas redes sociais sobre os resultados mais mediáticos dos nossos investigadores; coordenamos uma rúbrica de rádio semanal (‘Bastidores da Ciência’); documentários e intervenções num canal televisivo local.
Entre 2017-2021 a ARDITI administrava um plurianual de 3M€, com uma participação de 500 mil euros do Governo Regional; em 2022 a ARDITI é responsável por administrar um orçamento de cerca de 9M€ (dos quais 4M€ do orçamento Regional). De forma a elevarmos a Região a um investimento de 1% do PIB até 2030, serão necessários 50M€/ano.
Como dizia Carl Sagan “Como pode uma sociedade investir em algo que não conhece?”
Por conseguinte, devemos sensibilizar a comunidade Insular de que nem só de Turismo se vive numa Europa do século XXI. Torna-se fulcral convencer os jovens da importância da Ciência para o seu futuro, que sensibilizam os próprios pais para exigir aos decisores políticos resoluções baseadas em informação científica e rigorosa.
*Artigo publicado originalmente no jornal Açoriano Oriental no dia 4 de maio de 2022