
Investigador na Universidade dos Açores
O desenvolvimento científico tem estado dependente nas últimas décadas da figura do “cientista total” com conhecimentos e capacidade para: (1) conceber e planear estudos científicos; (2) ser o mentor e dinamizador da equipa científica; (3) coordenar toda a produção e publicação de conhecimento científico; (4) ser o gestor administrativo-financeiro de toda a logística e recursos necessários ao desenvolvimento científico; (5) assegurar uma divulgação e disseminação adequadas dos resultados obtidos e novos conhecimentos adquiridos junto dos mais variados públicos.
O advento, a partir de 2007, do FP7 – “7º Programa-Quadro de Financiamento da União Europeia para a Investigação e Desenvolvimento Tecnológico”, trouxe para a comunidade científica europeia a necessidade de, para ser competitiva, se ajustar a um novo paradigma para corresponder à multiplicação das novas oportunidades de financiamento europeu da Ciência, tendo para tal que dotar as instituições do sistema científico regional/nacional de recursos humanos altamente especializados no domínio da gestão da ciência (os chamados “gestores de ciência”), nomeadamente em termos da capacidade de promover a integração em consórcios competitivos, de desenvolver candidaturas diferenciadas potencialmente vencedoras, e de gerir os recursos financeiros e humanos disponíveis de forma a maximizar o impacto da atividade científica da respetiva unidade científica.
Mesmo não tendo que ter um passado relevante como cientistas, aos gestores de ciência exige-se um profundo conhecimento do sistema científico e tecnológico para poderem corresponder às exigências e crescente competitividade do financiamento científico ao nível nacional, europeu e mesmo global. Com o início do H2020 – “Programa de Financiamento União Europeia para a Ciência e Inovação no período de 2014-2020”, surgiu um novo paradigma na Ciência Europeia que exigiu que a investigação científica e desenvolvimento tecnológico (I&DT) resultantes do investimento público europeu pudessem ter um impacto significativo na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos europeus.
Tal deveria ser concretizado de várias formas, nomeadamente através da correspondência dos programas de investigação aos chamados “desafios societais” (adaptação às alterações climáticas, erradicação da pobreza, mitigação da crise alimentar, transição energética, transição digital, etc.); no pleno envolvimento de instituições do sector empresarial, administração pública e movimento associativo em iniciativas e projetos de I&DT; na disponibilização livre e aberta dos produtos da investigação financiada (dados “open access” e ferramentas “open source”) que permitissem a criação posterior de valor adicional (inclusivamente comercial) por parte de outras entidades científicas, públicas ou privadas; na disseminação da ciência produzida para públicos mais ou menos especializados, incluindo a comunidade escolar, de forma a reforçar a importância da Ciência para o Desenvolvimento Sustentável.
Tal como ficou claramente demonstrado no excelente evento “SciComPT 2022 – 10.ª edição do Congresso Anual de Comunicação de Ciência”, que decorreu no Nonagon (Lagoa, S. Miguel) nos passados dias 11, 12 e 13 de maio, a exigência do estabelecimento de um diálogo permanente entre a Ciência e a Sociedade requer uma “Comunicação de Ciência” profissional (e portanto devidamente apoiada e financiada), transdisciplinar, credível e positivamente disruptiva – personificada pelos “Comunicadores de Ciência” – que possa maximizar o impacto societal de toda a Ciência produzida e financiada com dinheiros públicos, usando os recursos, estratégias, plataformas e públicos-alvo mais adequados para cada caso.
*Artigo publicado originalmente no jornal Açoriano Oriental no dia 18 de maio de 2022