Comunicar ciência apresenta vários desafios. A informação tem que ser desconstruída de uma forma clara e acessível para que esta chegue ao seu público-alvo de uma forma eficaz, evitando que o seu conteúdo se perda na tradução. A pandemia de COVID-19, e a crescente crise climática, vieram também reforçar a necessidade de pensar sobre a ética e a integridade das formas como comunicamos ciência junto do público. É crucial quebrar com os preconceitos do cientista recluso numa torre de marfim, e da ciência como um meio de certezas e de verdades absolutas.
Foi este o tema que motivou a realização do High Level Workshop on the European Research Area 2022, promovido pela Science Europe e que teve lugar nos dias 23 e 24 de Novembro, em Zurique (Suíça).
Durante este workshop foi realizada uma mesa redonda com o título “Como comunicar para uma vasta audiência?”, moderada pela comunicadora de ciência Sabine Gysi, e que teve como participantes:
- Adriano Cerqueira, jornalista de ciência e membro do Grupo de Jornalistas de Ciência da rede SciComPt;
- Dariusz Aksamit, médico, professor na Universidade de Varsóvia (Polónia), e fundador do pólo polaco da fundação Marcha para a Ciência;
- David Budtz Pedersen, professor de comunicação de ciência e director do Centro de Investigação em Humanómica na Universidade de Aalborg em Copenhaga (Dinamarca);
- Lara Pivodic, investigadora de cuidados paliativos na Universidade de Ghent e na Universidade Vrije em Bruxelas (Bélgica).
Nesta sessão foram debatidas estratégias sobre como fomentar um diálogo honesto e genuíno entre cientistas e o público.

Na sua intervenção, Adriano Cerqueira, representante da rede SciComPt, propôs que a linguagem usada neste diálogo não seja focada apenas em factos, mas também em valores comuns, realçou a importância de promover a transparência ao longo de todo o processo de investigação e de descoberta, assim como a necessidade de reforçar o ensino do método científico e do pensamento crítico, não apenas na escola, mas ao longo da vida.
Nas restantes intervenções foi ainda proposto olhar para a incerteza como uma oportunidade para a partilha de conhecimento e para a criação de diálogo, adoptar uma filosofia de desenvolvimento de competências para todos os intervenientes no processo científico e na sua divulgação, e alimentar uma mudança cultural que permita colocar a comunicação de ciência como parte integrante do processo científico.
Por fim, foi também realçada a necessidade de trabalhar em proximidade com o poder político no sentido de trazer a ciência para a agenda pública e mediática, e também de promover a participação cívica de cientistas e de cidadãos na procura de soluções para os grandes desafios ambientais, económicos, e de saúde pública, que teremos pela frente.