
Se há algo que não é estranho num bar, é ver alguém a beber e saborear uma caneca de cerveja. Estranho é estar essa pessoa de pé, diante de uma sala em silêncio, enquanto fala sobre o betão com que se fazem as barragens. Poderia estar a falar de outra coisa? Sim, como da história da caça à baleia, ou do tratamento do cancro do sangue, por exemplo.
Todos os assuntos cabem num bar, desde que explicados na linguagem do dia-a-dia. É esse o desafio que se propõe: num encontro mensal, de acesso gratuito, dois ou três estudantes que se preparam para a sua prova de doutoramento, e vindos de áreas de investigação totalmente distintas, explicam o seu trabalho em apenas 10 minutos cada um. Seguem-se 20 ou 25 minutos de perguntas e respostas. Como a garganta tende a secar – especialmente num bar, diz-se – aos oradores/as são oferecidas bebidas.
Chama-se PubhD, um nome nada fácil de adotar na língua de Camões, que é a junção do típico bar britânico, o “pub”, com a designação inglesa para doutoramento, “PhD” (abreviação de ‘Doutor em Filosofia’). O primeiro PubhD surgiu em Nottingham, no Reino Unido, em janeiro de 2014, e rapidamente se espalhou pelas cidades britânicas.
Chegou a terras lusitanas, começando pela capital, em outubro de 2015, com o primeiro PubhD de Lisboa. Após três meses, já se brindava em Braga e Guimarães. Seguiram-se Évora, Porto, Bragança, Coimbra e Aveiro, praticamente todos fruto da paixão de voluntários com sede de saber o que se investiga nas universidades portuguesas.
O PubhD não é uma palestra sobre ciência, para deixar tudo em pratos limpos. É uma conversa onde se explica a investigação académica que está a ser desenvolvida no momento. Quem assiste tem contacto com a ciência ainda em construção, e pode (e deve) sentir-se à vontade para questionar, partilhando com o/a investigador/a as incertezas sobre o processo de fazer ciência.
O PubhD chega aos Açores, pela primeira vez, à boleia da Rede de Comunicação de Ciência e Tecnologia de Portugal – SciComPt, que acontece na ilha de São Miguel de 11 a 13 de Maio. O mote da edição de 2022 deste congresso é “Refletir no passado para construir o futuro”. Tal como os demais eventos PubhD, este evento nos Açores procurará ser um espaço de partilha e reflexão em torno do conhecimento trazido pelos oradores e oradoras. No ambiente informal de um bar, o público será convidado a pensar no impacto que esse conhecimento pode ter no futuro, para que este seja trilhado com confiança e esperança.
Entre todas as ciências, estes eventos oferecem aos clientes do bar uma conversa rica e estimulante. Já os/as oradores/as, além dessa conversa, podem surpreender-se com o interesse que o seu trabalho desperta em pessoas fora da sua área.
Este encontro acontece num bar para que todos se sintam em casa, a conversar de igual para igual. Quebram-se barreiras e diminuem-se distâncias. Ouve-se música, bebe-se um copo e fala-se de ciência, trazendo-a para fora das universidades para que faça parte da nossa cultura. Porque o que lá se passa interessa a todos nós.
O PubhD é uma celebração da curiosidade. Em São Miguel, dia 12 de Maio, peguemos nos copos e brindemos!
*Artigo publicado originalmente no jornal Açoriano Oriental no dia 13 de abril de 2022