Sílvio Mendes
Sílvio Mendes
Comunicador de Ciência no Instituto Superior Técnico

Longe vão os tempos em que estávamos dependentes dos media tradicionais para conseguirmos ter acesso a conteúdos de ciência. Não descurando o papel crucial desses órgãos de comunicação, como este histórico jornal em que escrevemos, surgiram nos últimos anos outras plataformas de comunicação de enorme potencial. No topo da lista, embora com uma exploração tímida e pouco consistente, estão as Redes Sociais.

Muitas são as instituições científicas e investigadores/as em nome próprio que se instalaram no Facebook, Twitter e Instagram, entre outras, e começaram a distribuir histórias pelo mundo. Temas cruciais para o nosso dia-dia como a COVID-19 e os riscos da atividade sísmica no arquipélago entram cada vez mais nas nossas leituras. O mesmo acontece com conteúdos de ciência fundamental, ainda sem aplicação imediata mas igualmente cruciais para que no futuro continuemos a encontrar respostas para as grandes questões da vida e do Universo.

Este aumento de quantidade de conteúdos de ciência nas redes sociais provoca-nos também  muitas inquietações, enquanto comunicadores, convertidas numa série de questões. Como definimos o que estamos a publicar? O que queremos dizer? A quem? Estamos a cumprir as limitações impostas por cada plataforma ou a ser capazes de adaptar a nossa história e mensagem a cada uma delas? Cada instituição e / ou cientista tem (ou procura ter) uma voz única. E responder a estas questões é uma forma de encontrar a sua. No entanto, de pouco servia ter uma voz sem boas histórias que tornam cada publicação única e que ofereçam um valor inquestionável a quem as lê.

Estar nas redes sociais é também assumir um compromisso irreversível de maior envolvimento com o público. Deixamos de publicar para sermos lidos, mas para dialogar e interagir. Estamos preparados para isso? Definir bem o público-alvo é, por isso, absolutamente crucial. Um conteúdo direcionado a um público jovem no Instagram merece uma abordagem completamente distinta de um artigo publicado neste jornal, por exemplo. Só é possível ajustar o estilo de uma mensagem se soubermos a quem nos dirigimos, exercício incontornável quando se comunica. O ajuste ao formato de cada rede social não deve também também ser cego: o sucesso de uma publicação não se mede só com números de leituras, mas depende dos objetivos estabelecidos previamente (levar um número de pessoas a mudar comportamentos ou a participar num evento, etc). Em vez de publicações reféns dos algoritmos impostos pelas plataformas, propomos uma comunicação assente numa estratégia e em conteúdos com histórias e pessoas dentro.

Foi a pensar nestas e noutras questões estratégicas que criámos recentemente no Instituto Superior Técnico um Guia para as Redes Sociais (https://ist.pt/RedesSociaisTecnico), disponível gratuitamente, que apresenta alguma dicas de boas práticas na gestão de conteúdos para as redes sociais, inspiradas nas melhores práticas internacionais. A esperança é que possa ser um contributo para que cada vez mais instituições, cientistas, comunicadores de ciência e interessados possam encontrar rumo estratégico. À medida que o tempo passa, fica cada vez mais insustentável não estar nas redes sociais. Mas todos os dias devemos questionarmos: de que forma?

*Artigo publicado originalmente no jornal Açoriano Oriental no dia 20 de abril de 2022